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domingo, 13 de fevereiro de 2011

UMA EXPLICAÇÃO DA HIPÓTESE EXPLICATIVA FORMULADA POR THOMPSON PARA OS MOTINS DO PÃO NA INGLATERRA DO SÉCULO XVIII.

                                                                                                                     Por: Manoel Oliveira da Silva


            Ao nos propormos uma possível explicação acerca da hipótese explicativa de Thompson para os motins do pão na Inglaterra do século XVIII, ressaltamos que não podemos nos ater à revoltas em função da fome. Sabemos que as coisas foram bem mais complexas, o que estava em questão eram dois modelos de economia que regiam uma sociedade que em tempos de boa colheita, tinham como matar a fome e que em tempos de colheitas ruins, viam sumir de suas mesas o pão, aquele que seria na maioria das vezes o seu único alimento.
            Para Thompson é verdadeiro afirmar que os motins eram provocados pelo aumento dos preços, por maus procedimentos dos comerciantes e pela fome.[1] Tais comportamentos turbulentos não seguiam padrões pré-estabelecidos; os elementos fortuitos e a espontaneidade devem ser levados em conta – casualidades estas que eram baseadas em uma longa série anterior de incidentes as quais lhes deram significados – mas a concepção espasmódica e instintiva das ações do povo deve ser descartada; e certo sentido de unidade nas ações dos indivíduos deve ser considerado.
Thompson analisa os motins supostamente provocados pela fome. O autor discorda do termo turba para definir a multidão de trabalhadores e do termo motim para definir as lutas e reivindicações destes últimos. Thompson discorda da perspectiva da história econômica tradicional, para a qual os distúrbios ingleses do século XVIII eram provocados eminentemente pela fome. Para ele, é possível detectar uma noção legitimadora em quase toda ação popular do século XVIII. Neste sentido, os homens e mulheres da multidão estavam imbuídos da crença de que estavam defendendo direitos ou costumes tradicionais.
            Entretanto, o texto nos leva a crer que outras questões faziam parte do contexto da economia moral na Inglaterra no século XVIII. Como o preço baixo dos pães para a camada inferior da sociedade, este fator promovido pelo paternalismo se tornou bastante forte a ponto de um simples aumento do gênero, causar além de desconforto dos consumidores, revolta e luta por aquilo que achavam direito e tradicional.
            Thompson ainda afirma que

Havia outras áreas, igualmente sensíveis, em que as queixas da multidão eram alimentadas pelas queixas dos tradicionalistas ou dos profissionais urbanos. Na verdade, pode-se sugerir que, se as multidões sediciosas ou fixadoras de preços agiam segundo um modelo teórico consistente, esse era uma reconstrução seletiva do paternalismo, extraindo dele todas as características que mais favoreciam os pobres e que ofereciam uma possibilidade de cereais mais barato. [2]

Thompson afirma que os motins não foram causados apenas pela fome. Mas apesar desta assertiva do autor, todas estas revoltas estavam relacionadas com o modelo de produção e comercialização dos cereais, bem como o trabalho dos moleiros a manipulação dos produtos a venda por amostras e a fabricação do pão. Tudo isso relacionado a uma economia onde o capitalismo dava os primeiros sinais de sua eclosão.
Para afirmar tudo o que aqui foi dito acerca dos motins descritos por Thompson, ressaltamos que o paternalismo foi o principal sustentáculo destes levantes sociais na Inglaterra do século XVIII. Visto que a sociedade menos favorecida tinha neste modelo de economia sua afirmação.   

2-         As insatisfações concernentes à economia especificada no que se deu “o motim da fome na Inglaterra do século XVIII era uma forma altamente complexa de ação popular direta, disciplinada e com objetivos claros.” [3]
Porém para o autor, trata da questão econômica acerca do pão:

“(...) que os motins eram provocados pelo aumento dos preços, por maus procedimentos dos comerciantes ou pela fome. Mas essas queixas operavam dentro de um consenso popular a respeito do que eram práticas legítimas e ilegítimas na atividade do mercado, dos moleiros, dos que fazem o pão etc. Isso, por sua vez, tinha como fundamento uma visão consistente tradicional das normas e obrigações sociais, das funções econômicas peculiares de vários grupos na comunidade, as quais, consideradas em conjunto, podemos dizer que constituem a economia moral dos pobres. O desrespeito a esses pressupostos morais, tanto quanto a privação real, era o motivo habitual para a ação direta.” [4]

O que fica claro são os fenômenos desencadeantes dos motins, pautados em motivos pelos quais tendem a ocorrer. E de forma interessante isso se caracteriza numa reação popular em face de uma inquietação, que neste caso, assume um caráter econômico, não no sentido da imposição capitalista do laisse faire, mas numa organização do que parece ser protestos contra o preço do pão, à sua fabricação e a fome.
Formou-se ao longo do tempo, entre a classe trabalhadora inglesa, uma espécie de código ético-moral, não oficializado, não declarado abertamente, mas que todos, inclusive as autoridades, sabiam que existia. A esse código os trabalhadores, o povo, recorriam de forma quase que instintivamente toda vez que se sentiam lesados, ou mesmo prejudicados. Vinha a tona, no subconsciente do povo, dos trabalhadores, a reação inevitável da defesa daquilo que eles consideravam como seus direitos básicos de sobrevivência, sobretudo o direito ao pão.’
                                                          



















Referência

THOMPSON, E. P. A economia moral da multidão inglesa do século XVIII. In: Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 150-202.


[1] Thompson. P. 152.
[2] Idem. P. 167.
[3] Idem, p. 152.
[4] Idem.

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